segunda-feira, 14 de março de 2011

Roosevelt & Disney

Depois de longo e tenebroso inverno (ou verão?), eis que me ocorre escrever algo nesse espaço. Me refiro agora sobre dois livros que estive lendo nas últimas semanas. São duas biografias muito interessantes, de duas personalidades bastante conhecidas, que coincidiram em uma época peculiar da história dos Estados Unidos: Franklin Roosevelt e Walt Disney. Falarei brevemente das duas biografias, mas um pouco mais da primeira, pois o livro “Walt Disney – O Triunfo da Imaginação Americana”, de Neal Gabler, contém densas 900 páginas, e demorarei um pouco mais para destrincha-lo. No entanto, adianto que é um livro bastante empolgante e elucidativo, tanto sobre sua vida, família e desafios, como desmitificador dos vários boatos e inventos ao seu respeito.

Walter Elias Disney (05 dez.1901 – 15 dez.1966) era descendente de protestantes irlandeses. Foi em 1834 que Arundel Elias Disney, seu bisavô, migrou para o Ontário, no Canadá. Seu filho mais velho, Kepple, avô de Walter, foi quem se estabeleceu nos Estados Unidos, em Kansas, e depois, em Ohio e na Florida. De fato a família – bisavô, avô, e o seu pai também, Elias Disney – eram gente muito empreendedora e... nômade. O próprio Walt, o penúltimo de cinco filhos, chegou a morar em sete cidades americanas, por conta das iniciativas empreendedoras do pai, quase sempre fracassadas. Tendo uma infância e adolescência cheia de dificuldades econômicas e familiares (seu pai era excessivamente austero e exigente), soube levar tudo com uma simplicidade e leveza incomuns... Chama muito a atenção sua força de vontade para empreender projetos em uma área completamente nova e desconhecida na época: o desenho animado! Bem... já escreverei mais adiante.

Sobrea biografia de Franklin Delano Roosevelt (FDR), li uma de Lord Roy Jenkins (editora Nova Fronteira), que pouco tempo antes havia publicado o que foi considerado o mais completo estudo sobre Winston Churchill. O autor faleceu quase no término dessa obra, deixando as últimas páginas para o seu colega da Universidade de Harvard, Richard E. Neustadt, completar. A apresentação da edição brasileira foi feita pelo FHC, que ressalta várias características importantes das páginas que se seguem. E uma delas é precisamente essa: não se trata de uma biografia da sua vida pessoal – ainda que aborde esse tema, principalmente no início –, mas sobretudo a sua entrega à política. Não trata tanto da família, namoro, casamento, como do seu itinerário político, sua forma de governar e montar estratégias tomando como base sua visão de estadista. E, nesse sentido, traz muito de ensinamento e exemplo. O que em sentido moral pessoal não podemos nos apoiar tanto, em sentido político sim. Podemos dizer que o lema “the buck stops here” (daqui a responsabilidade não passa), encontrado na mesa do seu sucessor, Truman, realmente traduz a conduta de FDR.

Inicialmente o autor monta um paralelo entre as carreiras do “tio Theodore”, parente natural, ex-presidente e padrinho político de Franklin, e o primo. Diz Jenkins que “é impossível compreender FDR (pelo menos muito difícil) sem apreciar a influência que seu primo afastado teve sobre os primeiros 38 anos de sua vida. Embora sem grau de parentesco (eram primos em quinto grau) fosse muito inferior a dos dois Adams, dos dois Harrisons, ou dos dois Bushes, a ressonância do nome Roosevelt na história americana não é só maior que a dos outros pares, mas é uma herança conjunta de ambos os presidentes desse nome”.

O itinerário de Franklin Roosevelt como presidente teve diversas peculiaridades, a começar pelo fato de ter sido o único presidente na história dos EUA a ter tido quatro mandatos. Podemos admitir que isso se deu por diversos motivos internos e externos, como a eclosão da Segunda Grande Guerra e coincidências no envolvimento do país nesse contexto, bem em momentos de eleições presidenciáveis. No entanto, isso é quase que “mais um fator”, dentre a força estadista de FDR.

Sobre as relações diplomáticas entre Estados Unidos e Inglaterra, entre Roosevelt e Churchill, o livro tece diversos comentários e episódios interessantes, especialmente enquanto o primeiro ministro britânico buscava, de uma maneira ou de outra, convencer FDR a entrar na Guerra Mundial e apoiá-lo. A realidade dura de Pearl Harbor, em 1941, fez com que Churchill soltasse espontaneamente a frase: “Bem, afinal de contas, vencemos!”... Tinham enfim, a tão demorada adesão dos EUA ao seu lado.

FDR, bem perto do final da Grande Guerra, se reelege em 44, mas sua saúde tão frágil – ainda que não aparentasse tanto isso ao grande público– não resiste, e falece ainda no início do ano de 45. É realmente surpreendente como sua vibração política impulsionava o seu corpo débil desde o ano de 1921, em que é atacado pela poliomielite na ilha de Campobello, onde descansava. Será sete anos depois que terá sua primeira grande vitória nas urnas, como governador de Nova Iorque. Se reelejerá também como governador dessa cidade, até 1932, quando é eleito, pela primeira vez, presidente do seu país.

Cristiano Chaui



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