O livro , como o próprio Chesterton diz na introdução, descreve o itinerário da sua evolução intelectual e conversão interior. Usa uma imagem bastante interessante nesse sentido: diz que, como filósofo, sente-se como um navegador inglês, que depois de cometer um ligeiro erro de cálculo em sua rota, veio descobrir a Inglaterra, pensando tratar-se de uma nova ilha dos mares do Sul. E por quê? Porque, sem conhecer em profundidade o cristianismo, fazia filosofia e acreditava estar “inventando a roda”... e descobre que não era bem assim. Diz: “Com todo o ardor juvenil, exauri a voz a proclamar as minhas verdades, mas fui castigado pela maneira mais singular e mais justa: guardei como minhas tais verdades, depois descobri, não que elas não eram verdades, mas, simplesmente, que não eram minhas. Quando pensava estar sozinho, vi-me na ridícula situação de ter todo o Cristianismo a minha volta. (...) O navegador pensou ter sido o primeiro a encontrar a Inglaterra, e eu pensei ter sido o primeiro a encontrar a Europa. Tentei encontrar uma heresia para mim e, quando já lhe tinha dado os últimos retoques, descobri que se tratava da ortodoxia”. Estava dado o nome da obra.
Uma das condições que sir Chesterton enumera para conhecer o mundo tal como é está na verdadeira humildade, coisa que o pensamento moderno – segundo ele – acabou por distorcê-la completamente: “o homem podia duvidar de si, mas não duvidava da verdade. Agora se dá exatamente o contrário”. Exemplifica com um episódio, quando um editor comentou-lhe sobre uma terceira pessoa: “Aquele homem vai longe, porque acredita em si mesmo”. Nesse momento passava um ônibus que se dirigia a um bairro de Londres onde se encontrava o manicômio (Hanwell). Foi quando responde: “Quer que lhe diga onde estão os homens que mais acreditam em si mesmos? Posso muito bem dizer-lhe, pois conheço alguns que têm em si próprios uma colossal confiança, maior do que a de César ou de Napoleão. Sei perfeitamente onde brilha a constante estrela da certeza e do sucesso, e posso conduzi-lo ao trono desses super-homens. Os homens que realmente acreditam em si mesmos estão todos nos hospícios”.
Ainda que devam existir muitas publicações dessa obra – imagino – li uma da Editora LTR. Os dados são os seguintes: Ortodoxia – G.K. Chesterton. Tradução de Cláudia Albuquerque Tavares e apresentação, notas e anexo (muito bons, por sinal) de Ives Gandra da Silva Martins Filho.
Cristiano Chaui
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